A vida que merecemos

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pequenas Corrupções

Ética, moralidade, honestidade ou bondade. Não importa como você chame, mas o sentido é o mesmo. Fala-se em crise de valores, em decadência moral. Talvez tenha ocorrido, de fato, alguma queda na aplicação de valores morais. Mas não significa que em algum momento do passado fomos, realmente, morais.
Temos a mania de tratar a ética como se fosse uma peça de roupa. Hoje utilizamos, amanhã não. Valores não podem ser tratados dessa forma. Você não pode ser desonesto hoje e “compensar” sendo “duplamente honesto” amanhã. Não é assim que a banda toca.
Vivemos em uma sociedade onde se dizer honesto está na moda e ser honesto é ser ingênuo, “besta”. O “jeitinho brasileiro” nada mais é do que a exaltação da corrupção. Benefício particular em detrimento do coletivo, aquilo que costumamos relacionar aos políticos e grandes empresários. Entretanto, todos somos corruptos.
Ninguém nasce corrupto, tornamo-nos com o tempo. O processo é lento, mas inexorável. Pequenas corrupções, vantagens “inocentes” para que possamos ter a sensação de ganhos variados. Somos tolerantes com as grandes corrupções porque somos criados em meio de pequenas contravenções. Somos os primeiros a bradar que algo está errado, que fulano não deveria ter feito tal coisa. Damos lições de moral e ensinamos aos outros como serem pessoas honestas, justas e boas, para, logo em seguida, furarmos a fila, jogarmos lixo na rua, sonegarmos impostos…
Há tempos um sábio chamado Platão disse “O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior”. Achas a cobrança de imposto abusiva? Ótimo! Então faça alguma coisa para mudar isso! Lute! Ao sonegar você abre mão do direito de reclamar.
É fácil aconselhar os filhos a serem corretos, honestos, mas de que adianta isso se na primeira oportunidade você fura a fila do supermercado, sonega imposto, furta energia, permite que o filho menor de idade dirija ou suborna algum funcionário público? As pequenas corrupções se acumulam e brutalizam o indivíduo, fazem com que nos acostumemos com isso e toleremos as grandes corrupções, isso quando não as cometemos.
Cometemos erros, esse não é o problema. Realizar uma ação imoral inconscientemente e depois tentar consertar é normal, mas ter consciência de que a ação é errada e ainda assim realiza-la é a síntese da corruptividade.

Não existe honestidade pela metade. Sejamos morais por inteiro e que comecemos agora. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Como ampliar o foco/concentração

     Após alguns anos observando alunos, amigos e conhecidos, notei um problema que não para de crescer: incapacidade de manter a concentração por longos períodos, principalmente no que diz respeito à leitura.
       Ano passado sugeri um pequeno exercício para alguns alunos. Reencontrei-os recentemente e dois deles agradeceram pela dica e comentaram como o aumento da capacidade de concentração os tem ajudado. 
       Pensei nisto há tempos, como algo para melhorar a minha própria concentração. Funcionou muito bem para mim e creio que pode funcionar com outras pessoas. Segue um pequeno roteiro.



1 - Encontre um lugar tranquilo. Com uma mesa e longe do computador. Remova aquilo que possa te distrair. É importante que você possa se concentrar em uma única coisa.

2 - Escolha algo para ler. Um livro, uma revista, um texto da universidade/colégio; evite algo que você teria extrema facilidade em se envolver, privilegie algo que você leria sem tanto entusiasmo.


3 - Arrume um cronômetro. Caso resolva usar o do celular, deixe-o próximo mas fora de seu campo de visão. Inicie a marcação de tempo assim que começar a ler. Quando você perceber que perdeu o fio da meada, que se desconcentrou, pare o cronômetro e anote o tempo decorrido. Zere o cronômetro e repita o procedimento 10 vezes.
Some os resultados e divida por 10. Você terá uma média de seu "tempo de foco". 

4 - Suponha que seu tempo médio seja de 5 minutos (parece pouco, e é, mas você irá se impressionar com a facilidade que perdemos o foco sem perceber). Durante uma semana você se esforçará para ler 5 minutos e 30 segundos sem parar. Use o despertador do celular se necessário. Repare que durante uma semana inteira você precisará apenas exceder em 30 segundos sua média de tempo de foco, não é algo que possa ser considerado realmente difícil.

5 - Após uma semana não será mais um esforço ficar focado em um texto por x minutos e meio seguidos. Na segunda semana tente 1 minuto além de seu novo limite. Na terceira 5 minutos além... e continue até atingir um tempo em que pareça existir um equilíbrio entre conforto e desconforto. Sugiro 1 hora. Após esse tempo dê uma pausa. Alongue-se, beba alguma coisa, coma ou dê uma olhada (rápida!) no celular.

Enfim, a base do exercício gira em torno da progressão lenta do tempo de foco. Adapte os tempos como achar melhor. O que descrevi funcionou comigo e não vejo porque não funcionaria com você.



domingo, 8 de junho de 2014

COMO PENSAR MELHOR UTILIZANDO A FILOSOFIA: PARTE II - DESCOMPLIQUE!

           


 Um problema complexo, em muitos casos, nada mais é do que um punhado de problemas mais simples. Qual seria a receita para solucionar nossas grandes dificuldades? 

Dividir o problemas em suas partes constituintes.

       A análise cartesiana diz exatamente isso, que devemos dividir as dificuldades encontradas em tantas partes quantas forem necessárias para que possamos solucioná-las. 
       Parece o cúmulo da obviedade. Mas pense bem. É o que fazemos? Quantas vezes insistimos em encarar certo problema e nos exasperamos devido à imensa dificuldade?
       Peguemos algo banal. Arrumar um cômodo tomado por meses de desorganização. Normalmente separamos um dia para dar conta da tarefa. Começamos dispostos e acabamos exaustos. Algumas vezes conseguimos dar conta de tudo, outras deixamos as coisas "melhor do que estavam". Mesmo que consigamos arrumar tudo, o preço que pagamos - um dia inteiro investido, cansaço, estresse - é alto demais! Que tal aplicar a análise cartesiana neste problema? Imagine "zonas" para o cômodo e dedique um dia para cada zona. Repare que quanto mais zonas existirem, menos trabalho você terá, embora a arrumação demore mais. 
           Em certa medida podemos aplicar a análise em nossos relacionamentos. Raramente uma grande discussão surge sem dar aviso prévio. A grande maioria é fruto do acúmulo de pequenas desavenças e implicâncias. Deixamos acumular pequenos atos que irritam. Não falamos nada porque achamos ser exagero, ou algo sem importância. Em algum momento a quantidade de "eventos insignificantes" crescerá e o que era simples passa a ser algo complexo. Basta reparar nas discussões em que ao final não se sabe o que originou a briga, mas várias pequenas coisas foram lembradas e ditas um ao outro. Por isso as pequenas coisas devem ser conversadas. Sem exageros, problemas simples devem ser tratados com simplicidade. Sem complicações.
           A vida é simples - de verdade - nós é que a complicamos. Portanto, DESCOMPLIQUE-SE!

quarta-feira, 4 de junho de 2014

COMO PENSAR MELHOR UTILIZANDO A FILOSOFIA: PARTE I - SEJA CLARO!

        Apaixonei-me pela filosofia por interesse. Podem jogar pedras. Não sou um "amante do saber", ao menos não no sentido desinteressado em que supõem que devemos amar o conhecimento.
        Ao entrar em contato com meus primeiros conceitos filosóficos, ainda na adolescência, percebi que muitos deles poderiam ser úteis. Lembro-me de ler sobre René Descartes e seu Método Cartesiano e de como isso me ajudou. O que falarei aqui não será uma análise filosófica acerca de conceitos que fazem sentido para "poucos escolhidos" e sim uma interpretação de como tais conceitos podem ter um impacto gigantesco em sua vida prática.

COMO PENSAR MELHOR UTILIZANDO A FILOSOFIA

PARTE I - A EVIDÊNCIA CARTESIANA

        Descartes sugere, na primeira etapa de seu método, a evidência, que se aceite como verdade apenas aquilo que se mostre claro, evidente. Pode parecer simples, mas estamos longe de fazer isso em nosso cotidiano.
        Imagine a última discussão em que esteve envolvido. Imaginou? Reparou que, provavelmente, boa parte dos argumentos utilizados estavam longe de ser "claros"? Ideias parciais, crenças, teimosia, orgulho... Vários são os fatores que prejudicam nosso entendimento de algo.
        Experimente o seguinte exercício reflexivo: desconsidere absolutamente qualquer ideia que você não tenha a mais absoluta certeza. Desconstrua suas verdades, seus "achismos", suas opiniões. Faça de conta que é outra pessoa, com ideias diferentes, e desconstrua as verdades dessa nova pessoa.
       Quando sentir que chegou ao fim, àquela certeza absoluta, que pode ser comprovada, comece o processo de construção. Imagine! Qualquer argumento construído a partir de tal verdade será obrigatoriamente verdadeiro!
        E caso não consiga chegar a uma verdade tão absoluta assim, não há problema, o simples fato de ter refletido sobre como você pensa fará com que suas ideias fiquem mais claras e suas discussões mais produtivas.
         


quarta-feira, 30 de abril de 2014

Conhece-te a ti mesmo

Sócrates foi um filósofo grego que viveu por volta do século V a.C. Foi o responsável, entre outras coisas, pela frase do título. “Conhece-te a ti mesmo” é de uma simplicidade inspiradora. A ideia não é, aqui, adentrar nos conceitos socráticos, ou analisar filosoficamente o que significaria a expressão e sim falar um pouco sobre como esta frase me ajudou e pode, talvez, ajudar você.

Você, eu, todos nós criamos “fantasias” sobre quem somos. Mentimos primeiramente para os outros e, principalmente, para nós mesmos. Criamos um personagem que chamamos de “eu”. Fazemos coisas das quais nos envergonhamos e inventamos desculpas para nos justificar, com o tempo acabamos por acreditar em tais invenções.

Faça um teste. Pegue um caderno e uma caneta. Descreva algo que você fez ou algo que você acha que lhe defina. Agora coloque em seguida a pergunta “por que fiz isso?” ou “por que sou assim?”. Repare que não é algo tão fácil de se fazer. Mas insista. A primeira resposta, provavelmente, será a mentira que você inventou para “dourar a pílula”, fazer com que você pareça melhor do que realmente é.

Leia sua resposta e se pergunte “como me senti ao fazer isso?”. Aquilo que você sentiu fará com que reveja o que respondeu.

É bem possível que você não goste da resposta. Não desanime. Não somos, na verdade, um centésimo daquilo que achamos que somos. A ideia é exatamente essa. Conheça-se. Ao saber suas limitações é possível que consiga superá-las. Descobrindo suas potencialidades nada impedirá que você as exerça.


Apenas tente, caso não tenha efeito você terá perdido poucos minutos, mas e se funcionar?