A vida que merecemos

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Cuidado com os "absolutos"

   

Tenho sérios problemas com "discursos de validade universal". Quando ouço alguém justificando algo com o "como você não concorda? Claro que é assim!", estremeço... Toda afirmação deve ser explicada, não importa o quão "óbvia" seja.

A pressuposição do óbvio nos impele ao pedantismo, à soberba e, consequentemente, ao confronto. "Verdades morais", ou "humanitárias", não escapam desta regra, mesmo que sejam aparentemente inegáveis. A sacralidade da vida, a valorização da liberdade, a igualdade... Não entenda mal, não estou negando tais princípios, ao contrário, defendo-os e os valorizo, por isso mesmo insisto na argumentação lógica, racional, em sua defesa.

Quando aceitamos um conceito, não importa qual, como válido em si mesmo, abrindo mão do desenvolvimento de argumentos que o sustentem, escancaramos a porta para a negação do conceito na medida em que outros conceitos "válidos em si mesmos" opostos podem ser igualmente validados.

Peguemos o conceito de "defesa da vida". Por que a vida deve ser preservada? O que faz outras vidas, além da sua, serem consideradas valiosas? 
Ao longo da história tivemos a segmentação da vida humana. O valor à vida era atribuído seguindo certos critérios: nacionalidade, etnia, gênero, hábitos. 
O que faz com que todas as vidas sejam igualmente valorizadas - em teoria - nos dias de hoje?

Se você parou para pensar nas perguntas acima, provavelmente encontrou respostas generalistas em um primeiro momento. Acreditar que as respostas são "óbvias" e que todos as entendem da mesma forma que você, impele aquele que pensa de forma diferente a se apegar ainda mais às suas ideias, reforçando o maniqueísmo reinante na atualidade.

Na medida em que conseguimos argumentar logicamente, expondo uma linha de raciocínio clara que explique a ideia em questão, abrimos espaço para o debate, para o convencimento e, pontualmente, para a concórdia. 

Alguém poderia observar: Mas algumas ideias são evidentes! É impossível que o fulano não as entenda! 

Bem, se você não consegue explicar a obviedade de uma ideia óbvia, talvez essa "verdade" não seja tão simples assim. De onde surge a indagação: por que você a aceita enquanto verdade?

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Um bom começo...


           O que é preciso para que sejamos felizes? Pergunta difícil... Estou passando por um período que talvez forneça vislumbres de respostas.
            Acredito que tenhamos uma espécie de "tanque de estresse", existe um limite do quanto este tanque pode encher. Contas, trabalho, filhos, relacionamentos, colégio, universidade, trânsito... enfim, a vida. O primeiro passo é fazer o possível para manter o tanque no menor nível. Como? Caso não seja possível simplesmente encarar os problemas com serenidade, que tal eliminar aqueles que podem ser eliminados? 
            Existem certos confortos da modernidade que ajudam por um lado e atrapalham de outro. A questão seria pesar se mais ajuda ou atrapalha. Segue o meu exemplo:
             Nunca fui muito fã de dirigir. Trânsito, alagamentos, falta de local para estacionar, assaltos... Comecei a notar que, ao somar todos os pequenos problemas de se ter um carro, meu "tanque" ficava mais cheio do que se não tivesse. Fiz os cálculos. Moro perto do trabalho e não saio muito. Aderi aos aplicativos de transporte (Uber, 99 etc) e passei a gastar menos do que quando tinha carro e, principalmente, zerei o estresse relacionado à locomoção. Vou aos lugares e simplesmente desço do carro e entro, sem precisar procurar lugar para estacionar. Engarrafamento? Assisto Netflix no celular (com fone de ouvido, por favor) ou coloco alguma leitura em dia. Na última segunda feira (07/05/2018) minha cidade foi assolada por um dilúvio. Alagamentos, engarrafamentos, desespero... e eu? Deitado no banco de trás do Uber, dormindo. O motorista me acordou na porta de casa. A corrida ficou um pouco mais cara (dez reais a mais), mas a tranquilidade não tem preço. 
            Vendi o carro. Em um mês "desmotorizado" emagreci quatro quilos e o sono melhorou. Vou ao supermercado com mais frequência, como fica próximo de casa posso ir e voltar a pé (exercício). Ao caminhar mais, comecei a observar a cidade, as pessoas. Reflito mais, tenho novas ideias... 
            Concomitantemente com a venda do carro conheci uma pessoa que me fez um imenso bem, convivemos pouquíssimo tempo, pois mora em outro país, mas o impacto em minha vida foi transformador. Ela reavivou meu gosto por música, comecei a ouvir coisas novas, a realmente prestar atenção no que ouvia. Aqui segue mais um vislumbre do que pode ser parte da resposta da pergunta inicial. Ouça música! Faça com que seus momentos tenham trilha sonora, que sejam permeados de melodia! 
       Hoje estava voltando do supermercado, a pé, carregando duas sacolas, debaixo de um aguaceiro sem fim (protegido por um imenso guarda chuva) e com o fone de ouvido. O que seria um caminho penoso, acabou por ser um momento único; conforme as músicas se sucediam o mundo ao meu redor ganhava contornos  de película cinematográfica.
       Não digo que venda seu carro ou que comece a caminhar. Na realidade o segredo está em observar com atenção as pequenas coisas. Quanto mais coisas você tem para se preocupar, menos tempo sobra para viver de fato... Viver exatamente o momento em que você está, sem lamentar o passado ou temer o futuro. Pode não ser o segredo da felicidade, mas é um bom começo... 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O não tão estranho caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde

     Que tipo de monstro vive em você? Que nome você dá para aquilo que rasteja logo abaixo do consciente? Aquilo que lhe envergonha, que deseja esquecer que pensou mesmo antes de pensar? Conheça seus monstros! Conviva com eles! Aprenda com eles! Fugir e fingir que eles não existem apenas os fortalecem!
     Todos temos "pedaços" que gostaríamos de não ter. Na ânsia de corresponder à imagem idealizada de ser humano que construímos ao longo da vida, negamos o óbvio e fingimos que somos melhores do que somos. Conheça e abrace o que há de pior em você! Flerte com aquilo que há de mais podre em seu interior! Seduza o seu pior lado, liberte o seu "Hyde" e horrorize seu "Jekyll"! Assim que estiver íntimo de seus demônios, aceite-os como seus melhores amigos. Não lute, mas não se entregue. Conviva, mas não ceda o controle. Conheça para poder controlar.
     É inocência acharmos que o simples esforço para ser melhor é suficiente para ser de fato. Aceite que não é perfeito(a) e grite um imenso "DANE-SE!". Com o tempo seus demônios continuarão aí, mas inócuos, sem poder, pois a força deles vem de nossas derrotas, dos momentos em que sucumbimos ao monstro e sofremos por isso. Ao aceitar o pior de nós, o melhor poderá florecer. Encontre alguém com quem você poderá dividir o que há de pior em você! Viver com a melhor parte de alguém é fácil. Mas viver com alguém que aceita e entende o que há de pior em você, ah... isso é amor.   

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas #SQN!


        Tudo que sentimos, do amor ao ódio, do prazer à dor, ocorre em nosso cérebro. Por mais que queiramos enxergar um "sentido superior", algo que transcenda a banalidade da existência material, a verdade é que reações químicas ocorrem em nosso cérebro que, por sua vez, ordena que certas glândulas entrem em uma espécie de frenesi hormonal, retro-alimentando a química cerebral gerando o "sentimento".
          Não concorda? Sem problemas, isso não muda o fato de ser verdade. Cientistas começam a entender o funcionamento desse complexo sistema e, de forma hesitante, simulam tais sensações. Posto isto, cabe aqui uma pequena reflexão.
         Por mais que nossos sentimentos sejam completamente fisiológicos, as interpretações que damos a eles não o são. Utilizamos nosso arcabouço cultural, nossas experiências, para atribuir sentido ao que sentimos. O que importa se são apenas interpretações pessoais, desprovidas de uma "verdade transcendente"? Por que a necessidade de um sentido universal, que independa de nossa vontade?
        Na verdade, esta forma de ver a realidade é libertadora. Para que se culpar pela forma que você ama? Não existe uma forma única. O fenômeno químico é o mesmo, mas o sentido é dado por nós, por tudo aquilo que aprendemos e vivemos. Não se culpe por não amar da mesma forma que é amado(a), você sente da forma que aprendeu a sentir. Não se culpe por "sentir demais" ou "de menos", isso não existe! Você sente de uma forma única, tão válida quanto qualquer outra.
        A célebre frase "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" é uma falácia! Você não pode ser responsabilizado(a) porque outra pessoa interpretou as reações eletroquímicas cerebrais de forma diferente da sua; assim como não é justo cobrar que a outra pessoa interprete da mesma forma que você. Vocês são diferentes! Está mais do que na hora de começarmos a assumir a responsabilidade por aquilo que sentimos...     

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Quem é você?

Quem é você? Não é uma pergunta fácil de se responder. Aprendemos, com o tempo, a compor uma persona que pouco tem relação conosco. Criamos um personagem, alguém adequado ao meio em que vivemos. É uma excelente estratégia de sobrevivência, mas o quanto este personagem tem de você? Ou, ainda mais importante, quem realmente vive a vida, você ou o personagem? 

Até que ponto você deixa de ser você para atender às demandas deste ser ficcional?  Adotamos um certo estilo, ouvimos certos tipos de música e escolhemos nossa profissão por livre e espontânea vontade, ou somos apenas um reflexo que visa corresponder ao que o meio espera de nós?

Peguei-me pensando nisso. Até que ponto eu sou eu? Consegui isolar diversos traços de personalidade que, arrisco dizer, pertencem ao ser ficcional criado por mim. Quanto mais pensava, mais confusa ficava a distinção entre "criador e criatura".

"Ser você mesmo" é complicado. Vivemos presos dentro de nós mesmos, com medo de assumir ideias, gostos e comportamentos que causariam insatisfação nos meios em que vivemos (família, trabalho, colégio, amigos...). Mesmo certas posturas tidas como demonstrações de genuína personalidade, na maioria dos casos, visam satisfazer a expectativa que o meio tem de nós. Na maior parte  do tempo nossa personalidade é reativa e não proativa.

Essa máscara que criamos esconde muitas coisas, boas e ruins. Não digo que tenhamos que abrir mão do disfarce, mas acredito que ele deve compor uma parte menor de nós. Muito de nossa infelicidade talvez esteja relacionada à prisão que criamos para o nosso "eu". Permita-se ser um pouco mais você. Deixe que o prisioneiro receba um pouco da luz do sol e viva! 


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Desculpem o desabafo...

            A postagem de hoje será um pouco diferente. Será mais pessoal e, espero, terapêutica. Uma vez, um sábio compositor disse "a tristeza é senhora...". Somente agora, aos trinta e oito anos, compreendo a expressão fora do campo teórico. 
              Existe uma tristeza que toma conta de você. Uma vontade constante de chorar, por mais que você acredite que seja fraqueza, a vontade é mais forte e você, sozinho, quando ninguém está olhando, chora.
              Infinitas circunstâncias podem gerar tal sentimento. Rejeição, fracasso, amores, insegurança, saudade, mudanças drásticas... 
          Considero-me um afortunado. Tive - e tenho - uma ótima família, uma excelente educação, reconhecimento profissional, amei e fui amado. Este ano tomei algumas decisões que mudaram drasticamente minha vida. Pedi demissão de um dos colégios em que trabalhava. Eu amava trabalhar lá... Ao longo de quase dez anos me identifiquei com cada aluno. Sempre vi um pouco de mim em cada um e isso fez com que eu gostasse ainda mais deles.
           Infelizmente, motivos alheios à minha vontade, principalmente de cunho burocrático, forçaram uma tomada de decisão. Saí e montei um curso. E isso, talvez, explique parte desta tristeza. Há um componente imenso de saudade, mas não é só isso. Pela primeira vez na vida estou receoso. Pensamentos do tipo "e se não der certo?" tomam conta de minha mente. Não estou acostumado a sentir insegurança, de certa forma, é novidade para mim.
          Mas, ao refletir sobre tudo isso, percebi que a causa da tristeza ia além. Sempre me orgulhei de ser extremamente independente, em todos os aspectos, principalmente no emocional. Mas não ter alguém com quem dividir suas inseguranças, tristezas, derrotas, alegrias e vitórias faz com que algo sangre dentro de você. 
             Acho que a ideia é bem simples. Não nos bastamos. Em algum momento precisaremos de alguém para nos emprestar o ombro, ouvir sem julgar, rir, chorar ou, simplesmente, ficar junto sem falar nada em um doce silêncio não constrangedor. Tais pessoas são raras, alguns morrem sem achar alguém assim. Aos afortunados que acharam: cuidem! cultivem! mantenham! A vida é difícil demais para que tenhamos que carregar o fardo sozinhos...
       
P.S. Não fiz revisão, achei honesto publicar da forma que escrevi, de um fôlego só, sem pensar demais. Portanto, perdoem eventuais erros.

domingo, 19 de novembro de 2017

Eterno Retorno II

        Estava conversando com uma pessoa muito amada, importantíssima em minha vida, quando ela fala sobre este modesto blog. "Você deveria voltar a escrever nele. Diversas vezes me foi útil e pode ser que ajude mais gente". Sinceramente? Tinha esquecido completamente dele, entre uma obrigação e outra, o prazer acaba ficando de lado. Resolvi ouvir o que me foi aconselhado e estou de volta. Espero que consiga manter a regularidade dos textos. 

Ah! Meus sinceros agradecimentos a você que me fez voltar a escrever...


       Você já parou para pensar no vazio que toma conta da existência moderna? A ausência de significado, de sentido, de propósito? As incertezas se acumulam e buscamos desesperadamente algo que faça com que não pensemos nisso. Compras, drogas, sexo, diversão extremada... Não me entenda mal, nada contra a diversão, mas uma vida pautada no efêmero tende a ser insatisfatória, vazia, carente de significado. Sabe quando você está cercado de pessoas e ainda assim a solidão lhe corrói por dentro? Quando é insuportável ficar sozinho? Quando o auge da semana é o seu final? 

          Gostaria de lhe propor um pequeno exercício mental. Por favor, siga atentamente as orientações.

PASSO 1

Você morreu. Não interessa como aconteceu, mas seu espírito está ao lado do corpo. Você pode ver e ouvir tudo o que acontece ao seu redor, embora as pessoas não tenham a menor ideia do que está acontecendo. Imagine a cena.

PASSO 2

Por alguma razão você não consegue ficar longe de seu corpo. Começa o velório. Imagine a cena. Quem está presente? Comece pelos familiares e finalize com os amigos.

PASSO 3

Aproxime-se das pessoas, ouça o que falam sobre você. Comece pelos mais próximos, pais, irmãos, filhos. O que eles podem falar sobre você? Há algo memorável? Você realmente fará falta?

PASSO 4

É o seu enterro. A cova foi fechada e acima dela há uma lápide. O que está escrito? Qual foi o epitáfio? Quais as poucas palavras que podem resumir sua vida ou dar uma ideia de quem você realmente foi?

Deprimente? Percebeu que, em última análise, sua vida foi quase que um total desperdício? Ótimo! Comece a viver agora! Faça com que sua vida seja significativa! Ao final de todos os dias faça a pergunta: "Eu viveria este dia novamente? Da mesma forma?". Tenha isto em mente e você viverá uma vida digna de ser revivida! Viva como se após a morte você fosse obrigado a reviver e tomar sempre as mesmas decisões! 

Viva de forma que você possa sempre ser melhor do que foi ontem. E como vou saber se estou no caminho certo? Simples... quando conseguir ficar sozinho consigo mesmo, ouvir seus pensamentos e ser feliz sem depender de mais mais nada além de você... quando chegar este momento, você vai saber que está no caminho certo.