A vida que merecemos

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Complexo de Peru


    Chamo de "Complexo de Peru" a mania de "morrer de véspera". Sofrer por antecipação. Todos fazemos isso em algum momento. Antecipar a dor de pagar o imposto de renda, da prova da semana que vem, da reunião chata de amanhã, da conta que vence em dez dias, da possibilidade de traição por parte do(a) parceiro(a), da morte... 
       Antecipar a dor é sofrer duas vezes. No caso de sofrimentos inevitáveis, a morte por exemplo, é sofrer constantemente até que o destino resolva agir. Sêneca (de novo ele) reflete sobre isso.

    Desprezível é a alma obcecada pelo futuro, é infeliz antes da infelicidade, deseja ter para sempre as coisas que lhe causam prazer. Não terá descanso, e a necessidade de querer conhecer o futuro lhe fará deixar de lado o presente que poderia ser melhor desfrutado. Temer a perda de algo é o mesmo que já não tê-lo mais consigo. 

       Em outras palavras, foque no presente! Não entenda mal. Não significa que o futuro não deva ser planejado, que não tenhamos que ficar atentos ao que nos sucede. Devemos planejar, mas evitando sofrer por aquilo que ainda não ocorreu. 
      Não é fácil. Mas com o tempo, desde que se tente, fica menos difícil. Utilizo uma técnica que funciona comigo e talvez funcione com você.

  1. Assim que o problema ocupar sua mente pare de fazer o que quer que seja.
  2. Respire profundamente.
  3. Dedique toda sua atenção ao que seus sentidos estão captando. Sua respiração, o que seus dedos estão tocando, um ponto único a ser observado, o som do ambiente ao seu redor. Particularmente, concentro-me em um ponto entre os olhos, entre as sobrancelhas.
     É uma forma de dedicar atenção ao presente, ao que ocorre no agora e não no futuro incerto. Em pouco tempo nossa mente se acalma e pensamos com mais clareza, o que ajudará a superar o "Complexo de Peru".

domingo, 5 de abril de 2015

TDAH ou Síndrome da "multitarefa"? Como lidar?



    Antes de mais nada: o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade) existe! Meu único questionamento é em relação à quantidade de casos diagnosticados. O que relatarei aqui é apenas uma experiência que pode, ou não, ajudar. Dito isso, posso começar.

   Há exatos onze meses conversei com um aluno que me confidenciou sofrer de TDAH. Diagnosticado, com laudo e passe livre para fazer provas em ambiente diferenciado. Entretanto, não queria o benefício por achar que não poderia contar com isso na "vida real" e que caso se acostumasse com um tratamento diferenciado no colégio teria dificuldades quando tal tratamento não fosse possível. Achei o raciocínio interessante, e correto.  Ao final ele perguntou: O que eu posso fazer?

      Não entrarei no mérito de discutir a razão de termos mais casos hoje em dia do que no passado, mas operei a seguinte linha de raciocínio: déficit de atenção significa não conseguir focar em algo, hiperatividade sempre me lembra como fico quando estou ansioso. Caso você faça diversas coisas ao mesmo tempo, acaba por dividir a atenção do cérebro, diluindo o foco. O século XXI nos fez assim, é quase que uma necessidade ser "multitarefa". Adoraria fazer várias coisas ao mesmo tempo de forma otimizada, mas como não consigo me forço a tentar uma de cada vez. Ao nos sobrecarregarmos, não damos conta das tarefas e ficamos inconscientemente ansiosos, o que pode ser visto como "hiperatividade". 

     Agora imagine viver desta forma durante os anos fundamentais de nossa criação? Acabamos adotando tal comportamento como padrão na vida adulta.

       Novamente: esta é MINHA interpretação, pode não ser a correta, mas é como vejo as coisas. 
    
       Há pouco recebi um e-mail de um remetente desconhecido. Era a mãe do aluno em questão, e dizia o seguinte:


Caro professor Eduardo,

    Sou a mãe do __________. Talvez o senhor não lembre, mas ele foi seu aluno ano passado. Pois bem, gostaria de agradecer ao senhor. Graças aos seus conselhos meu filho mudou, na verdade o senhor não acreditaria na mudança. Quando ele começou a usar elásticos no pulso e montar quebra-cabeças admito que não me convenci da eficiência daquilo. Mas hoje vejo como pequenas coisas geram grandes mudanças. Mais uma vez obrigada! Muito do que meu filho alcançou não seria possível sem a sua ajuda.

        Cortei muita coisa do e-mail, deixei apenas o essencial para servir de exemplo ao que interessa. Fiquei feliz em ver que o que disse ao aluno teve um efeito positivo e pensei "vai que isso pode ajudar mais alguém?". O que vou dizer NÃO é um tratamento, nem pretende ser, na verdade acredito que boa parte dos casos de TDAH não são transtornos de fato, mas efeitos de uma sociedade "multi-task". O que sugeri foi uma forma de recalibrar alguns hábitos modernos prejudiciais ao foco.

      Deve-se reeducar o cérebro para se fazer uma coisa de cada vez. Para isso sugeri ao aluno que começasse a montar quebra-cabeças durante um tempo determinado. Enquanto o tempo não passasse ele não poderia fazer mais nada. Começando com meia hora nos primeiros quinze dias e uma hora após isso. 

      Apenas isso. Em dois meses ele já conseguia ficar duas horas seguidas sem se distrair. Após cinco meses ele conseguia estender esse foco a outras coisas. Hoje ele cursa direito e consegue estudar em ciclos de duas horas com pausas de meia hora sem perder o foco.

      Boa parte do que somos vem de hábitos adquiridos. Mudando-os também nos transformamos.